“Pai de Santo não consegue incorporar” …

Pai de Santo não consegue incorporar

Em um terreiro, em um dia de Gira, um Pai de Santo recebe os Mediuns e a assistência.
Prepara tudo faz as firmezas como sempre fez em todos os trabalhos.
Começa a Gira, faz uma linda abertura, porém como sempre simples.
Na hora da sua incorporação ele sente algo estranho, pois ele não sente vibração de nenhuma entidade que com ele trabalha.
Por alguns segundos ele fica quieto e pensativo.
Olha para todos os filhos e assistência de sua casa e diz.
“Por favor, meus irmãos comecem os trabalhos para mim.”
Os filhos se entre olham, mas não falam nada, apenas fazem o que o seu dirigente disse.
Vieram os Baianos e Baianas naquele terreiro.
O dirigente saudou todos e se afastou do seu congá com seus olhos marejados de lágrimas.
Foi para fora do seu terreiro e olhando para o céu implorou por uma resposta.
“O que eu fiz de errado meu Pai?”
Sem respostas retornou para dentro do terreiro e ficou sentado assistindo o trabalho.
Ele observava tudo atentamente sem perder nenhum detalhe.
Olhava como o cambono de assistência tratava as pessoas, observava o cambono da Porteira, prestava atenção nos Tabaqueiros, olhava como os Cambonos cuidavam das entidades e da assistência que lá dentro estavam.
E por fim o maravilhoso trabalho que as Entidades faziam em seu terreiro.
Aos poucos a angústia e a tristeza que ele sentia, foi tomada por uma felicidade de poder estar ali sentado assistindo pela primeira vez em anos a Gira do seu próprio terreiro.
Começou a chorar emocionado ao ver que o terreiro estava em mãos maravilhosas, sem o egoísmo, sem prepotência, sem vaidade, mas com muita humildade.
Ele se encaminhou para o Congá, bateu sua cabeça em sinal de respeito, cumprimentou todos os Cambonos e os Tabaqueiros, se ajoelhou aos pés de cada médium que estavam incorporados pedindo a bênção de cada baiano, foi ao centro do terreiro e incorporou.
As entidades uma a uma foram se retirando, até que só ficaram os Mediuns desincorporados e o Baiano chefe da Casa.
Todos os Mediuns, Tabaqueiros e Cambonos se ajoelharam pedindo a sua bênção.
O Baiano abençoou um a um e agradeceu os trabalhos dizendo:
“Gostaria de agradecer a todos vocês pelos trabalhos de hoje, não vim trabalhar nesta gira, pois meu médium tinha que assistir os trabalhos. Vocês Mediuns trabalhando com as suas entidades fizeram o meu menino chorar de emoção, senhores Cambonos vocês com a vossa alegria e amor contagiaram o meu menino e por fim, Tabaqueiros me falta palavras para agradecer.
A soma de tudo isso é a felicidade e o amor que meu menino sentiu em ver tudo isso, e em nome dele só posso agradecer.“
E assim ele fechou os trabalhos daquela noite.

Fica uma lição, um dirigente de terreiro não é um soberano dentro de um terreiro, ele precisa de seus filhos para se formar uma corrente mediunica.

Autor: Ronaldo Pereira e Mycelle Urenha Borba

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